"À tua porta está lama.
Meu amor, quem na faria?"
É assim a velha cantiga
Que como tu principia.
O laço que tens no peito
Parece dado a fingir.
Se calhar já estava feito
Como o teu modo de rir.
Dei-lhe um beijo ao pé da boca
Por a boca se esquivar.
A idéia talvez foi louca,
O mal foi não acertar.
Não digas mal de ninguém
Que é de ti que dizes mal.
Quando dizes mal de alguém
Tudo no mundo é igual.
Se vais de vestido novo
O teu próprio andar o diz,
E ao passar por entre o povo
Até teu corpo é feliz.
O teu carrinho de linha
Rolou pelo chão caído.
Apanhei-o e dei-to e tinha
Só em ti o meu sentido.
Quando o tempo se levanta
no sertão, e a seca vem,
não morre somente a planta,
morre a esperança também!
Dos tantos abraços que existem
Quero de cada um a experiencia
Pois nada melhor que um abraço
Para combater a carência.
Tens um livro que não lês,
Tens uma flor que desfolhas;
Tens um coração aos pés
E para ele não olhas.
O coração é pequeno,
Coitado, e trabalha tanto!
De dia a ter que chorar,
De noite a fazer o pranto ...
Dizem que não és aquela
Que te julgavam aqui.
Mas se és alguém e és bela
Que mais quererão de ti?
A tua boca de riso
Parece olhar para a gente
Com um olhar que é preciso
Para saber que se sente.
Só com um jeito do corpo
Feito sem dares por isso
Fazes mais mal que o demônio
Em dias de grande enguiço.
O que sinto e o que penso
De ti é bem e é mal.
É como quando uma xícara
Tem o pires desigual.
Há verdades que se dizem
E outras que ninguém dirá.
Tenho uma coisa a dizer-te
Mas não sei onde ela está.
Dá-me, um sorriso ao domingo,
Para à segunda eu lembrar.
Bem sabes: sempre te sigo
E não é preciso andar.
Boca de riso escarlate
E de sorriso de rir...
Meu coração bate, bate,
Bate de te ver e ouvir.
Esse frio cumprimento
Tem ironia pra mim.
Porque é o mesmo movimento
Com que a gente diz que sim...
Quando passas pela rua
Sem reparar em quem passa,
A alegria é toda tua
E minha toda a desgraça.
O rosário da vontade,
Rezei-o trocado e a esmo.
Se vens dizer-me a verdade,
Vê lá bem se é isso mesmo.