Sentimentos
Assim, sem nada feito e o por fazer
Por: Fernando Pessoa
Assim, sem nada feito e o por fazer
Mal pensado, ou sonhado sem pensar ,
Vejo os m eus dias nulos decorrer ,
E o cansaço de nada m e aum entar.
Perdura, sim , com o uma mocidade
Que a si mesma se sobrevive, a esperança,
Mas a m esma esperança o tédio invade,
E a mesma falsa mocidade cansa.
Tênue passar das horas sem proveito,
Leve correr dos dias sem ação,
Como a quem com saúde jaz no leito
Ou quem sempre se atrasa sem razão.
Vadio sem andar, m eu ser inerte
Contem pla-m e, que esqueço de querer,
E a tarde exterior seu tédio verte
Sobre quem nada fez e nada quere.
Inútil vida, posta a um canto e ida
Sem que alguém nela fosse, nau sem mar,
Obra solentem ente por ser lida,
Ah, deixem -se sonhar sem esperar!
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Poema enviado em 31/05/2025